sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O lavrador

Fim de tarde o sol se pondo, a luz do dia se apagando lentamente sendo devorada pela penumbra mensageira do anoitecer. A margem da estrada, longa estrada, pelos ramais quase fechados de matos empoeirados sempre sai um lavrador, embornal contendo cacarecos sujos de seu rotineiro feijãozinho quase sem gordura, uma longa enxada sobre o ombro encascorado, que ombro, que escravo! Seu corpo negro que brilha o sal do suor, nem nú nem vestido, que trapos!
Volta pra casa se lava e descansa, não como o bastante, pois é grande a filharada, ascende uma fugeira no terreiro do casebre perdido entre o vasto cacaueiro, cospe entre os fiapos de dentes a resina do grosso charuto permanente entre os lábios grossos. Noite enluarada a clarear toda lavoura, que brilho! como se fosse um turbilhão de luzes refletido sobre muitas águas cristalinas. O sono te invade, o cansaço nem se fala, lava os pés, faz a prece e cai na cama. Sua companheira sua flor, no silêncio faz amor e depois adormece e de tudo se esquece. O galo canta e o desperta e a rotina recomeça, os mesmos trapos, os mesmos cacos, a mesma enxada e a mesma estrada, lá vai o pobre coitado, não vale um tostão furado, com certeza é um heroi , alheias fortunas constroi, heroi escravizado, mal nutrido, mal remunerado, qual seu preço afinal? Homem bravo grande vítima da injustiça social.

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